Brasil instala fábrica de medicamentos contra aids na África
Recursos do Ministério da Saúde serão investidos na produção de antirretrovirais no país. Atualmente, cerca de 1,6 milhão de moçambicanos são soropositivos
O Ministério da Saúde vai doar R$ 13,6 milhões para a primeira fase de instalação de uma fábrica de medicamentos contra a aids em Moçambique. Por meio de cooperação entre os governos brasileiro e moçambicano, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vai aplicar diretamente os recursos no desenvolvimento do projeto da unidade, na compra de todos os equipamentos e na capacitação de profissionais de saúde no país africano. A Lei que libera o valor foi publicada no Diário Oficial da União nesta terça-feira (15).
A partir do projeto de construção da fábrica, elaborado pela Fiocruz, o governo de Moçambique vai realizar as obras. Quando as instalações estiverem prontas, a fundação vai enviar os aparelhos. Extensão do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos) da Fiocruz, a fábrica deverá começar a funcionar no fim de 2010, em Maputo, capital de Moçambique.
Na fase inicial, o país africano vai apenas embalar os medicamentos enviados pelo Brasil. Depois disso, por meio da gradual transferência de tecnologia brasileira, os moçambicanos vão desenvolver os próprios antirretrovirais. Para o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, o acordo entre os dois governos contribuirá com a melhoria da qualidade de vida dos moçambicanos.
"Vamos gerar conhecimento e permitir o desenvolvimento econômico e social de Moçambique. Essa cooperação está inserida nas políticas do governo brasileiro de fortalecimento das relações com os países de língua portuguesa", ressalta Temporão. O ministro da Saúde observa também que o acordo está entre as prioridades do programa Mais Saúde: direito de todos, projeto lançado em 2007 pelo Ministério para promover um novo padrão de desenvolvimento na área da saúde.
EPIDEMIA - O embaixador de Moçambique no Brasil, Murade Isaac Mugargy, considera fundamental o apoio brasileiro para ajudar a salvar vidas. "Como a maioria dos países africanos, enfrentamos uma epidemia muito forte de aids", conta. Além da produção de medicamentos, temos o grande desafio dar continuidade ao desenvolvimento de atividades de educação sexual, com orientações sobre o uso de preservativo, por exemplo", completa o embaixador.
Estima-se que 500 pessoas peguem aids por dia em Moçambique. De acordo com o Relatório de Progresso para a Sessão Especial da Assembleia Geral das Nações Unidas Sobre o HIV, aproximadamente 1,6 milhão de moçambicanos vivem atualmente com a doença. No Brasil, estimativas apontam que há 630 mil soropositivos.
Segundo o diretor de Farmanguinhos, Hayne Felipe da Silva, a liberação dos recursos contribuirá com o fortalecimento e o crescimento de Moçambique. "Queremos ajudar o país africano para que ele tenha tecnologia e consiga enfrentar esse grande flagelo, que é a epidemia de aids", diz o diretor.
OUTRAS AÇÕES - Além da fábrica de medicamentos, o Acordo Geral de Cooperação Fiocruz-África traz outras iniciativas. Em outubro de 2008, a Fiocruz inaugurou o Escritório Técnico de Moçambique, um braço de cooperação internacional entre o Brasil e países de língua portuguesa na área de saúde pública. O pólo fica em Maputo.
Em maio deste ano, onze moçambicanos foram formados pelo Programa de Mestrado em Ciências da Saúde, promovido pela Fiocruz em parceria com o Ministério da Saúde de Moçambique. Eles receberam o diploma de capacitação profissional (equivalente à especialização).